segunda-feira, 2 de junho de 2014

Vai onde te leva o coração...



Nos últimos dois dias tenho pensado muito nesta frase. Mais conhecida certamente pelo famoso livro…quase como um sussurro.

Vai onde te leva o coração…e para ir onde nos leva o coração, temos que saber, em primeiro lugar, onde está o nosso. E o dos outros. E o do Universo. Nestes últimos dois dias, o meu coração viajou. Senti, pela primeira vez desde há muito tempo, o cheiro e a presença do meu avô. Assim, do nada…julgo até que foi no meio da tarde, enquanto me descalçava e olhava, como todos os dias, a secretária do meu quarto. Pensativa…vai onde te leva o coração. O meu avô era uma pessoa sem um odor específico mas com uma presença forte. Nem sei porque pensei nele….talvez porque o que me recordo dele, enquanto criança, era ele sentado no banco vermelho de pedra, a dizer-me que um dia seria como a minha tia T. Boa com números, uma economista… 

Vai onde te leva o coração… desse dia (que mais ninguém se lembra porque estávamos só os dois!) recordo-me do sol a bater-lhe na cara, dele a abraçar-me e das palavras dele. A dizer que um dia iria ser como a minha tia T. Inteligente…O meu coração levou-me para esse dias como me poderia ter levado para muitos outros que passei com ele. Mas o facto de me ter levado para este, não foi coincidência.

Seria algo que o meu avô teria dito…Vai onde te leva o coração. Para onde fores, tem a certeza que o levas contigo, que o sentes de vez em quando, que o tocas, para garantir que ele ainda bate certinho. E protege-o de cada vez que sentires uma tempestade chegar, de cada vez que alguém to tentar arrancar de dentro do peito ou te tentar convencer que o coração não te leva mesmo a caminho nenhum.

Vai onde te leva o coração, minha neta. Pára e escutar o que ele tem para te dizer, não tenhas receio de ficar no silêncio da noite e ouvir só o seu som incrível. Entrega-o a quem te merece e a quem te quer bem. Afasta-o de quem te quer fazer sofrer…Leva o teu coração nas batalhas mais sofridas, nos tempos mais obscuros, nos projetos em que só tu te acreditas e de que todos duvidam.

Vai onde te leva o coração…entrega-te de corpo e alma em causas impossíveis, no trabalho em que acreditas, em pessoas extraordinárias.

Vai onde te leva o coração…sem deixar a mente assolá-lo com dúvidas, limitações e mesquinhices. No amor e na amizade, leva, só e apenas, o teu coração.

Como num sussurro, meu avô. Vai onde te leva o coração…

Quase que te consigo ver nesse dia, avô…e me tantos outros…

Obrigado por existires. Eu irei onde me leva (apenas!) o meu coração.


J. 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dry Dock

Querido Universo,

Estes últimos dias têm sido intensos...de muito trabalho, com vontade de ver o resultado magnifico na hora de abrir de novo o Spa. Tenho que confessor que, quando começamos o Dry Dock (para quem não sabe, é manutenção em doca seca), estava a odiar cada momento. Dá um trabalhão arrumar tudo, colocar todos os produtos fechados para ninguém roubar, tirar todo o equipamento do ginásio, não saber o que se vai passer a cada instante e, sobretudo, esperar...não é algo que me faça saltar de alegria.

Contudo, o Dry Dock são também momentos de confraternização, em que estamos todos muito mais soltos, sem as exigências de um cruzeiro normal com passageiros. Temos tempo de conhecermos melhor membros de outros departamentos, partilhar histórias, sair para jantar ou almoçar sem pensar muito na hora do regresso. É também a altura em que temos visitas do escritório, com pessoas que já não vemos há quase um ano...

E é incrivel como estes dias passam tão rápido.

Este dry dock está a ser especial. Porque sou manager e tenho um carinho especial por este Spa. Porque sou manager de uma equipa que ajudei a construir e a crescer. Com a qual posso contar e, até agora, ainda não me desiludiram. Porque temos feito um óptimo trabalho e estamos a ver o nosso Spa mudar e ansiosos por meter as mãos na massa e começar a limpar. Renovar energias faz sempre bem. E começar a temporada na Europa com o pé direito.

Sinto o meu dever quase cumprido. Faltam-me 5 cruzeiros para umas merecidas férias e sinto que este tempo vai passar a voar.

Faltam 4 dias para terminarmos... :)

Beijo no coração

Ju

sábado, 10 de maio de 2014

Encerrando ciclos... :)

Querido Universo,

Hoje venho agradecer-te. Do fundo do meu coração. Venho agradecer-te a grande oportunidade que me deste de crescer…tanto, em tão pouco tempo.

Há, mais ou menos, uma semana atrás, tiraste-me o tapete debaixo dos pés. Senti a imensa dor que é perder alguém, senti-me indefesa, sozinha, triste, abandonada. Senti que a Vida, tal como a tínhamos planeado, se perdeu para sempre. Não ao ponto de não ver uma luz ao fundo do túnel (afinal, nasci num ano 1…) e recomeçar de novo mas senti-me sem forças, desamparada.

O meu namorado (ou ex, agora) deixou-me porque se vai casar com outra mulher, por exigências de uma cultura e da família (e dele!). Digo-o não para que sintas pena de mim, mas para o verbalizar, porque posto desta forma chega até a ser engraçado. Penso que ninguém, homem ou mulher, deve passar por esta situação. Dois anos depois e planos feitos, senti a terra tremer e, pior, numa mensagem de facebook, acabada com um sincero «Melhores cumprimentos».

Fiz o que era possível fazer na altura…chorei! Chorei o quanto pude, deixei sair tudo de dentro de mim, roguei-lhe as maiores pragas do mundo, escrevi-lhe, voltei a escrever-lhe e li, vezes sem conta, as mensagens e os planos que fizemos juntos. Até tudo fazer sentido e até nada fazer sentido. Até a minha torneira fechar e eu não ter mais lágrimas para chorar…

Ao contrário do que pensava, não tive vergonha de partilhar a minha história. Já não é minha por isso a vergonha também não me pertence. Partilhei-a em voz alta com todas as pessoas amigas que tenho aqui, sem receio de ser vista como fraca. Afinal, acontece a todos…dentro ou fora do navio!
E é por isto que te venho agradecer hoje. Porque fui tão acarinhada por toda a gente, porque me deram conselhos tão sábios, porque descobri que algumas pessoas aqui são realmente meus amigos (curiosamente, homens!) e tomaram bem conta de mim. E, considero isto, uma bênção…uma querida portuga, deu-me os parabéns…por aquilo que eu ainda não sei! Por isso, é motivo de celebração…

Não quero que penses que estou a tentar fugir a um sentimento ou a emoções que me pesam. Que estou a tentar esconder algo. Mas dei-me conta que a única pessoa a gastar energia nestes pensamentos sou eu, por isso, tenho mesmo que o deixar partir. Ainda que goste muito dele, ainda que tudo tenha mudado e eu esteja a sofrer.

E dei-me conta hoje, enquanto falava com a pessoa que me ensinou tudo sobre este trabalho, que aprendi, que cresci com tudo isto, com esta equipa, que gosto imenso daquilo que faço e que estou aqui para ficar. Pelo menos, por alguns anos mais. E que este foi apenas mais um momento de aprendizagem e de desenvolvimento pessoal.

A pessoa que sou hoje devo-o a mim e também a ele, que me fez sofrer. A pessoa que serei daqui em diante também.
Ainda gosto dele, sim…estaria a mentir se dissesse que não. Mas a Vida leva-nos por outros caminhos, tem outros planos para nós. E, neste momento, tudo o que posso fazer é deixar-me ir com a corrente.
Por tudo isto e por tudo aquilo que eu (ainda) não sei, obrigado!!


Beijo no coração, 

Jo

sexta-feira, 18 de abril de 2014

3 meses...

Querido Universo,

Atingi metade do meu contrato. 3 meses de muitas peripécias, de uma equipa espectacular, de muitos momentos passados de alegria, gargalhadas e, também de algum aborrecimento.

Estou a meio caminho daquilo a que chamo casa. Tenho a minha cara-metade do outro lado do atlântico, a navegar lentamente para a mesma time line que eu. Não sei se contactaremos mais vezes e isso não me aflige…Deveria, não é?

Neste 3 meses muito aconteceu. Os meus amigos cresceram, uma delas já foi mãe, outros ficaram de novo grávidos, alguns saíram de Portugal e tive uma, muito especial, que, infelizmente, morreu. Os meus pensamentos também foram mudando….tenho tantas coisas que ainda quero fazer. Saí muito poucas vezes do navio porque tudo fica extremamente longe quando estamos na Ásia e quando o navio está em porto só algumas horas. Gostei destes sítios mas nunca mais me apaixonei como por Istambul. Continua a ser a minha cidade…sem explicação!

Ao longo destes três meses deixei, lentamente, de me sentir uma extra terrestre. Sim, eu demoro metade do meu contrato a livrar-me desta sensação ridícula de que todos me observam e de que devo estar a fazer algo do outro mundo. Demorei também a desligar-me do quanto espantoso foi o meu contrato passado e, este estava a ser apenas, aborrecido.

Mas ao longo destes 3 meses conheci também pessoas maravilhosas. Tenho um ‘segundo’ Filipe…a pessoa em questão tem tudo a ver com o meu melhor amigo e melhor, é tão cromo ou mais cromo que ele. No bom sentido, é claro…e com um coração de gigante! Oferece-me chocolates (quase) todos os dias, vem buscar-me para o café, eu chamo-o de chuchuco e ele de ‘minha borboleta’ com o seu melhor sotaque português. E é o gaijo com melhor bom humor de sempre…quem é que se veste de Hitler e pinta o bigode num pedaço de fita cola? É o meu amigo weird, como eu lhe chamo…estamos sempre a rir às gargalhadas os dois…e por nada de especial! Somos vizinhos de profissão e isso basta...
O meu Jay Jay faz-me rir às gargalhadas com o stand up comedy afro american…para que se saiba que é o meu Fitness Director ( a quem chamo carinhosamente de Jay Jay) e, ultimamente, tem sido impossível ficar indiferente as tiradas dele. Maravilhoso, sem dúvida….ah, eu devo ser a única miúda branca a entender estas cenas da stand up comedy afro american. Hilarius…aliás, não é a toa que a Tendy me chama de ‘white most black girl she ever met’. O Jay Jay está a ensinar-me a falar cool...estou quase a ficar uma pró com o meu Whasap…. !

A Tendy continua o mesmo amor de pessoa e é a miúda que fica comigo no bar e que me arrasta, literalmente, para situações embaraçantes. Deve ser por isso que quando chego a casa, nada me surpreende…

E ao longo destes três meses, fui reencontrando pessoas amigas, como o Vlad que me chamava de Meneses e agora está tão diferente. Nem a voz de trovão tem…Não fuma, não bebe, não….!! Ups…

Ao longo destes três meses cresci e estas pessoas cresceram comigo e ajudaram-me a crescer. E é por isso que na hora de despedida se torna tão complicado dizer Até Já….
Beijo no coração

JU

quinta-feira, 6 de março de 2014

Do Amor

Querido Universo,
Hoje venho falar-te de amor…o amor que dói, que queima por dentro, o amor que nos desperta. O amor que nos revolve as entranhas e nos faz suspirar e…sorrir…muito!
Venho falar-te desse amor, aquele que faz sobressair o que de melhor há em nós, sem termos a necessidade de ter o corpo perfeito, de usarmos as roupas da moda, de sabermos de cor e salteado a Enciclopédia Universal.

Venho falar-te um sentimento possível e quem nós humanos, julgamos impossível.
Este é um amor como qualquer outro mas diferente. Vai crescendo, como uma bola de fogo, quente, a percorrer a nossa espinha dorsal. A que nos mantém eretos, firmes, decididos. Venho falar-te de um amor maduro, um amor de certezas e definições, de caminhos planeados e caminhos traçados.

Um amor que está sempre presente e nos faz parecer jovens, independentemente da nossa idade cronológica.

É um amor que, muitas vezes, ignoramos. A maior parte das vezes.
E este amor, querido Universo, é um amor flexível, de braços abertos à mudança, sem receio de guerras, desentendimentos…desamor.

Todos temos este amor. Todos o sentimos. Todos os dias. Temos a possibilidade infinita de dar e, em larga escala, receber. What goes around, comes around, lembras-te?
E a maior parte dos nossos dias é passado em guerras, conflitos, muito ódio e muito desamor.

Venho falar-te, querido Universo, do amor-próprio. Que nos consome, que tem o poder de curar, de nos fazer mais felizes, de no ajudar a seguir em frente…mas não sem antes nos dar a devida luta!
Poucos de nós se apercebem deste amor-próprio. Dedicam a Vida toda a outras pessoas, sem nunca pensarem no que sentem, no que querem, como gostariam de ser tratados, como gostariam de tratar os outros. Vejo isto todos os dias no meu trabalho. Dezenas de vezes.

E, de cada vez que me apercebo disto, olho no espelho e prometo a mim mesma ter a capacidade de me acarinhar, de me elogiar, de fazer amor comigo. Porque a Vida é demasiado curta!

E, vocês, já fizeram amor hoje?



Querido Universo,

Tenho-te deixado muito sozinho. A verdade é que têm sido dias cheios, de trabalho, de energia, de mim…Os dias passam velozes. Quem trabalha ou trabalhou num ambiente destes, sabe bem o que é chegar ao final de um dia e, literalmente, cair redonda na cama. Já dizia uma boa amiga que todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de vir fazer um contrato…6 meses e muda-se a perspetiva do mundo!

Não me recordo se já te disse mas estou a viajar pela Ásia…quase como quem diz que vou conseguindo ver algumas das paisagens pela janelinha redonda (a minha escotilha) do quarto, tirando fotos aqui e ali (o tempo de ir lá fora é sempre muito escasso). Das vezes que fui saindo, adorei. Meu Deus, totalmente diferente da Europa e do resto do mundo mas, ao mesmo tempo, com todo o sentido. Coitada da Cris, estou sempre a chateá-la…temos que vir as duas de mochilinha às costas e viajar…conhecer profundamente estas paragens que me fascinam. Estar verdadeiramente de férias!

Agora, só agora, faz todo o sentido o querer mudar-me para a Ásia.
Não tive tempo (e infelizmente não é desta!) de visitar a China tradicional, de ver templos, de meditar num desses sítios maravilhosos, cheios de energia. Aqui dentro, nunca há demasiado tempo…mas está já planeada uma visita a Macau num dos nossos próximos cruzeiros. 

Em termos profissionais, tem valido muito a pena. Estou mesmo orgulhosa de tudo o que temos feito até agora e da minha equipa que tem respondido tão bem ao que lhes peço e ao meu humor especial de manhã. Tenho vindo a delinear muito a minha personalidade neste campo, com a ajuda da Cris e, juntas, orientamos todos os outros. Tarefa desafiante, sem dúvida!
Hoje, começa um novo cruzeiro. De Hong Kong a Beijing, com passagem por Shangai, por dois dias!

Prometo que te virei visitar mais vezes. E partilhar fotos…que agora tenho uma nova camara e preciso de lhe dar uso!!!

Beijo no coração
Ju


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Nautica

Querido Universo,
Demorei muito tempo a regressar aqui…queria ter a certeza de que quando te escrevesse de novo estaria livre de qualquer emoção menos negativa.

Já passou mais de um mês. Um mês repleto de estranhas emoções, sentimentos e uma clara sensação de que o meu lugar não seria bem aqui. Aliás, tive esta sensação durante toda a viagem, mesmo quando estava parada em frente ao navio. Para quem nunca fez disto Vida, asseguro-vos de que é uma sensação absolutamente normal. Cada navio, cada novo espaço é sempre diferente, com uma energia própria. Nós também vamos mudando, vamos querendo outras coisas, já não sentimos tanto entusiasmo por coisas que nos chamavam a atenção no primeiro, segundo e terceiro contrato.

Este navio recorda-me muito a minha primeira casa. O Marina. Por todo o lado vejo rostos conhecidos, amigos do meu namorado, pessoas que se foram tornando familiares desde 2011. A minha própria equipa é composta por pessoas já conhecidas e isso é mais do agradável apesar de eu estar já noutra posição. Engraçado como o mundo dos navios funciona.

Desde há um mês tem corrido tudo bem. Claro, temos os nossos dias. Não podemos agradar a toda a gente. Temos dias mais cansativos, outros mais relaxados. Vou jogando com isso como se fosse um malabarista. O que me vale, na maior parte dos dias, é a presença da Cris. Portuguesinha da Póvoa, que já está por cá há 2 contratos e está já mais do que habituada a ser ‘assistente’. Este contrato, ela é oficialmente a minha assistente. Não poderia estar mais contente. Penso que nunca vi ninguém com mais vontade de aprender, com gosto pelo que faz, boa em detalhes. Talvez seja por isso que me dou tão bem com ela. O engraçado é que aprendemos uma com a outra. Ela dá-me outros pontos de vista, não diz amén a tudo o que faço, dá-me na cabeça quando tem que ser.

A Cris, trouxe-me também, o sentido de família. Por causa dela, telefono mais vezes para casa. Por causa dela, dou mais valor a quem está longe, sem sentir pena. Foi esta a Vida que escolhi mas sim, posso manter e fazer crescer as minhas raízes. Não há coincidências…

Neste ultimo mês e meio, tenho ouvido muito a minha leitura da Aura (assunto para outro post) e, se no início me senti sozinha, agora começo a sentir-me bem na minha própria pele. Sinto que sou só eu, que não tenho que estar com mais ninguém se não quiser. Tenho cada vez mais a necessidade de ter o meu espaço, de gerar coisas, de ser criativa…e isso, não sendo novidade para mim, atrai-me porque liberta muito o meu pensamento.
Beijo no coração

JU